- Que tolice, Henry! - exclamou Dorian Gray, acendendo o cigarro na chama dum dragão de prata que o criado colocara sobre a mesa. - Vamos ao teatro. Quando aparecer no palco a Sibyl, terá um ideal novo de vida. Ela representará para si alguma coisa que você nunca conheceu.
- Já conheci tudo - respondeu Lord Henry, com uma expressão fatigada nos olhos - mas estou sempre pronto para uma nova emoção. Receio, porém, que, para mim, já não haja coisas dessas. Contudo, a sua maravilhosa rapariga pode fazer-me vibrar. Gosto de teatro. É ainda mais real que a vida. Vamos, Dorian, você vem comigo. Sinto muito, Basil, mas no meu carro há só lugar para dois. Você seguir-nos-á num hansom.
Levantaram-se e vestiram os sobretudos, tomando o café em pé. O pintor estava silencioso e preocupado. Pairava sobre ele uma sombra. Não podia conformar-se com aquele casamento, embora se lhe afigurasse preferível a muitas outras coisas que podiam ter acontecido. Alguns minutos depois desceram. Hallward foi num carro, sozinho, como fora combinado. e seguia com os olhos as luzes do pequeno brougham em que iam os seus amigos.