O Retrato de Dorian Gray - Cap. 8: Capítulo 8 Pág. 136 / 335

Ao raiar da alva encontrava-se ao pé do Covent Garden. Dissipou-se o negrume da noite, e o céu surgiu radioso como uma pérola. O silêncio das ruas ermas era cortado por carroças cheias de açucenas, que baloiçavam com o trepidar do carro. As flores embalsamavam a atmosfera com o seu perfume e como que o consolavam na sua mágoa. Dirigiu-se para o mercado e presenciou a descarga das carroças. Um carrejão de blusa branca ofereceu-lhe cerejas. Agradeceu-lhas e, muito admirado de ele se recusar a aceitar o dinheiro em paga, pôs-se a comê-las distraidamente. Haviam sido colhidas à meia noite, e o frio da lua havia-as penetrado. Abrindo caminho por entre os montões de legumes, passou depois uma longa fila de rapazes carregados com cestos de túlipas listradas e rosas amarelas e vermelhas. Debaixo do pórtico de pilares pardacentos, um rancho de raparigas enxovalhadas e de cabeça nua esperava que terminasse a lota. Outras agrupavam-se junto às portas do café da Praça. Os pesados cavalos das carroças batiam as patas nas pedras toscas, tilintando as suas campainhas. Alguns cocheiros dormiam sobre uma pilha de sacos. Em redor, por aqui e por ali, debicando grãos, saltitavam pombos de pescoço irisado e patas cor-de-rosa.





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