Não pôde prosseguir, sufocada por um soluçar convulso. Jazia prostrada no chão, como se estivesse ferida. Dorian Gray observava-a com os seus belos olhos e franzia os lábios cinzelados, numa subtil expressão de desdém. Há sempre o que quer que seja de ridículo nas emoções daqueles que deixámos de amar. Sibyl Vane parecia-lhe absurdamente melodramática. As suas lágrimas, os seus soluços enfadavam-no.
- Vou-me embora - disse ele por fim, na sua voz calma e clara. - Não quero ser mau, mas não posso tornar a ver-te. Foste para mim uma decepção.
Ela chorava em silêncio. Não respondeu e arrastou-se para mais perto. As suas mãozitas estendiam-se às cegas e pareciam procurá-lo. Ele rodou nos calcanhares e saiu. Passados momentos, achava-se na rua.
Por onde andou? Mal sabia. Recordava-se de haver vagueado por ruas mal iluminadas, de haver passado por arcadas imersas em sombras e casas de mau aspecto. Lembrava-se de o haverem chamado mulheres de voz roufenha e risadas grosseiras, de bêbedos passarem por ele, cambaleando e praguejando sozinhos e gesticulando como monstruosos macacos. Vira crianças grotescas amontoadas nos degraus das portas e ouvira gritos e palavrões vindos de pátios lôbregos.