O Retrato de Dorian Gray - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 145 / 335

Pôs-se a observá-lo curiosamente, a si mesmo perguntando se aquele biombo já alguma vez teria ocultado o segredo da vida de algum homem. Retirá-lo-ia daí, afinal? Porque não o deixar ficar? Que importava saber? Se fosse verdade, era uma coisa terrível. Se não fosse verdade, porque se havia de incomodar? Mas que sucederia, se, por algum acaso, por alguma fatalidade, outros olhos espreitassem por trás do biombo e vissem a transformação horrenda? Que faria, se Basil Hallward lhe pedisse que lhe deixasse ver o retrato? Basil, sem dúvida, o faria. Não; aquilo tinha de ser examinado; e imediatamente. Tudo seria preferível àquele terrível estado de dúvida.

Levantou-se e fechou à chave as duas portas. Pelo menos, estaria sozinho, quando defrontasse a máscara da sua vergonha. Então desviou o biombo e achou-se frente a frente com a sua própria imagem. Era absolutamente verdade! O retrato tinha mudado.

Como depois muitas vezes se lembrou, e sempre com não pequeno pasmo, encontrou-se a princípio contemplando o retrato com um sentimento de quase científico interesse. Não podia acreditar que tal mudança se houvesse podido operar. E, todavia, era um facto. Havia, porventura, alguma subtil afinidade entre os átomos químicos que na tela se corporizavam em forma e cor e a alma que dentro dele existia?





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