O Retrato de Dorian Gray - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 151 / 335

- Então, fui eu quem matou a Sibyl Vane - disse Dorian Gray, a meia voz -, fui eu quem a matou, tão certo como se lhe houvesse cortado o pescoço com uma faca. Contudo, as rosas continuam a ser encantadoras, os pássaros do meu jardim não cessaram os seus gorjeios e à noite eu vou jantar com você, depois iremos à Ópera e cear algures, talvez... Como a vida é extraordinariamente dramática! Se tivesse lido tudo isso num livro, Henry, talvez tivesse chorado. Como, porém, isso aconteceu na realidade, e comigo mesmo, parece espantoso demais para provocar lágrimas. Eis a primeira carta de amor, verdadeiramente apaixonada, que escrevi em toda a minha vida. É estranho que a minha primeira carta de amor seja dirigida a uma morta. Porventura sentem esses entes brancos e mudos a que nós chamamos mortos? Sibyl! Pode ela sentir, saber ou escutar? Oh, Henry, como eu a amava! Parece-me que tudo isso já lá vai há muitos anos! Era tudo para mim. Depois veio aquela terrível noite - há, realmente, só uma noite que isso foi? - em que ela representou tão mal, e o meu coração quase se me partia no peito. Ela explicou-me tudo. Era terrivelmente patético. Mas eu fiquei absolutamente insensível. Achava-a banal e rasteira. De súbito sucedeu alguma coisa que me fez medo.





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