Não posso dizer-lhe o que foi, mas foi uma coisa terrível. Disse que reataria relações com ela. Senti que procedera mal. E agora ei-la morta! Deus meu! Deus meu! Que hei-de fazer, Henry? Não sabe o perigo em que me encontro, e não há nada que me ampare. Seria ela o meu arrimo. Não tinha o direito de se matar. Foi egoísta.
- Meu caro Dorian - respondeu Lord Henry, puxando dum cigarro e tirando do bolso uma fosforeira dourada -, a única maneira de uma mulher regenerar um homem é maçá-lo tão completamente que ele perca todo o interesse possível pela vida. O casamento com essa rapariga seria para você uma desgraça. Você, é claro, tratá-la-ia com todo o carinho. Podemos sempre tratar com carinho as pessoas que nos são indiferentes. Mas ela não tardaria a descobrir que você se não importava nada com ela. E, quando uma mulher chega a essa conclusão acerca do marido, ou se torna terrivelmente desleixada no trajar, ou usa chapéus caros pagos pelo marido doutra mulher. Já não digo nada acerca do erro social, que teria sido abjecto, e, claro está, eu não teria permitido, mas afianço-lhe que, em todo o caso, tudo isso seria um absoluto fracasso.
- Talvez - murmurou o jovem, passeando para lá e para cá, horrivelmente pálido. - Mas pensei ser esse o meu dever. Não tenho culpa de que a terrível tragédia me tenha impedido de fazer o que era justo.