O Retrato de Dorian Gray - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 177 / 335

O Henry, a quem falei disto, riu-se de mim. Mas não fiz caso. Quando concluí o retrato e fiquei a sós com ele, senti que tinha razão... Bem, passados uns dias, o retrato deixou o meu atelier, e, mal me vi livre da intolerável fascinação da sua presença, pareceu-me que fora loucura o imaginar ter visto nele alguma coisa mais do que a sua extrema beleza, alguma coisa mais do que aquilo que eu podia pintar. Me+smo agora, não posso deixar de sentir que é um erro pensar que a paixão que o artista sente na criação se exterioriza realmente na obra que ele cria. A arte é sempre mais abstracta do que nós imaginamos. A forma e a cor apenas nos falam de forma e de cor - nada mais. Parece-me muitas vezes que a arte oculta o artista muito mais completamente do que o revela. E assim, quando recebi de Paris esta proposta, resolvi fazer do seu retrato o principal atractivo da minha exposição. Nunca me passou pela mente que você se opusesse. Vejo agora que você tinha razão. O retrato não se pode expor. Não fique zangado comigo, Dorian, pelo que me ouviu. Como um dia eu disse ao Henry, você é feito para ser adorado.

Dorian Gray respirou profundamente. As faces coloriram-se-lhe de novo, e nos lábios brincou-lhe um sorriso.





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