O Retrato de Dorian Gray - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 197 / 335

A própria acuidade do contraste intensificava-lhe a sensação de prazer. Enamorava-se cada vez mais da sua própria beleza, interessava-se cada vez mais em corromper a sua própria alma. Examinava com minucioso cuidado, e, às vezes, até com monstruoso deleite, os vincos hediondos da testa enrugada ou da boca espessa e sensual, a si próprio perguntando quais eram mais horríveis, se os estigmas do pecado, se os estigmas da idade. Colocava as mãos alvas a par das mãos grosseiras e empoladas do retrato e sorria. Zombava do corpo canhestro e dos membros descaídos...

Momentos havia, à noite, em que deitado, sem dormir, no seu quarto delicadamente perfumado, ou na sórdida sala duma taberna de má nota perto das docas, que, disfarçado e com nome suposto, costumava frequentar, pensava na ruína a que arrastara a sua alma, com mágoa que era tanto mais pungente quanto é certo que era puramente egoísta. Momentos desses, porém, eram raros. Aquela curiosidade da vida que Lord Henry fora o primeiro a espicaçar-lhe, quando estavam sentados juntos no jardim do seu amigo, parecia ir aumentando à medida que ele a ia satisfazendo.





Os capítulos deste livro