O Retrato de Dorian Gray - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 208 / 335

Fascinava-o o fantástico carácter destes instrumentos e sentia um curioso prazer na ideia de que a Arte, como a Natureza, tem os seus monstros, coisas de forma bestial e vozes hediondas. Todavia, passado algum tempo, enfastiava-se deles e deixava-se ficar, sozinho ou com Lord Henry, no seu camarote da Ópera, escutando em deleitado arroubo o Tannhãuser e vendo no prelúdio dessa grande obra de arte a tragédia da sua própria alma.

Numa ocasião embrenhou-se no estudo das jóias e apareceu num baile vestido de Anne de Joyeuse, almirante de França, e adornado com quinhentas e sessenta pérolas. Este gosto absorveu-o durante anos e pode-se até dizer que nunca o largou. Passava muitas vezes um dia inteiro arrumando e tornando a arrumar nos seus escrínios as várias pedras que coleccionava, tais como a crisoberil cor de azeitona, que à luz do candeeiro se torna rubra, a cimófana de veios de prata, o peridoto cor de pistácia, os topázios róseos e amarelos, os carbúnculos rubros com estrelas trémulas de quatro raios, pedras de cinamono cor de fogo, as espinelas cor-de-laranja e roxas e as ametistas de tons alternados de rubi e safira.





Os capítulos deste livro