O Retrato de Dorian Gray - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 217 / 335

Então, de súbito, uma noite, saía furtivamente de casa, ia para antros terríveis, nas imediações dos Blue Gate Fields, e aí ficava, dias e dias, até ser posto fora. No regresso, sentava-se em frente do retrato, umas vezes enojado dele e de si próprio, outras vezes cheio desse orgulho de individualismo, que é uma semifascinação do pecado, e sorrindo com recôndito prazer da repelente sombra que tinha de suportar o fardo que só dele devia ser.

Ao cabo de alguns anos não pôde suportar conservar-se muito tempo ausente de Inglaterra, e abandonou a villa que em Trouville partilhara com Lord Henry, assim como a casinha caiada de branco em Argel, onde mais duma vez haviam passado o Inverno. Detestava estar separado do retrato que constituía uma tão grande parte da sua vida e receava também que, durante a sua ausência, alguém penetrasse no quarto, apesar das sólidas grades que mandara colocar na porta.

Estava absolutamente convicto de que o quadro nada revelaria a quem, porventura, o visse. Era certo que ainda conservava, por baixo de toda a ignomínia e asquerosidade do rosto, a sua flagrante semelhança com ele; mas que podia isso significar aos olhos alheios?





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