O Retrato de Dorian Gray - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 216 / 335

Possuía ainda outro pluvial de veludo verde, bordado a folhas de acanto, de que saíam flores brancas de compridos pedúnculos, tudo bordado a fio de prata realçado por cristais de cores.

Tinha também casulas de seda cor de âmbar, seda azul, brocado de oiro, damasco de seda amarelo e pano de oiro, com as cenas da Paixão e Crucifixão de Cristo e com leões, pavões e outros emblemas bordados; dalmáticas de cetim branco e damasco de seda cor-de-rosa, decoradas com túlipas, golfinhos e flores-de-lis; frontais de altar de veludo carmesim e linho azul, e muitos corporais, véus de cálice e sudários. Havia nas aplicações místicas a que estas coisas se destinavam alguma coisa que lhe excitava a imaginação.

Pois esses tesouros, e tudo o que na sua preciosa casa coleccionara, eram para ele apenas meios de esquecimento, modos de procurar temporariamente fugir ao medo que, às vezes, lhe parecia quase insuportável. Nas paredes do ermo quarto, cuidadosamente fechado à chave, onde passara tão grande parte da sua infância, pendurara por suas próprias mãos o terrível retrato, cuja mutabilidade de feições lhe apontava a verdadeira degradação da sua vida, e pusera-lhe em frente, como uma cortina, a mortalha de oiro e púrpura. Passava semanas sem lá ir, esquecia a pintura hedionda, reatava a sua jovialidade frívola e descuidada, deixava-se de novo, apaixonadamente, absorver pela existência.





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