O Retrato de Dorian Gray - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 253 / 335

A ansiedade tornava-se-lhe insuportável. Parecia-lhe que o Tempo se arrastava com pés de chumbo, enquanto rajadas monstruosas o iam a ele atirando para o cairel duma negra voragem hiante. Sabia o que o esperava; via-o, na verdade, e, tremendo, esmagou com as mãos húmidas as pálpebras ardentes, como se quisera privar o cérebro de vista e recalcar as pupilas para a profundidade das órbitas. Era inútil. O cérebro tinha em si mesmo muito de que se alimentar, e a imaginação, que o terror tornava grotesca, torcia-se e destorcia-se como um ser vivo nas vascas da dor, dançava como um títere e, através de máscaras articuladas, fazia esgares hediondos... Então, de repente, o Tempo parou para ele. Sim, esse monstro cego, de fôlego lento, não se arrastava mais, e, estando morto o Tempo, logo acorreram horríveis pensamentos, que arrancaram da sepultura um Futuro horrendo e lho mostraram. Pôs nele os olhos, e o horror do que viu petrificou-o.

Finalmente, abriu-se a porta e entrou o criado. Dorian cravou nele os olhos esgazeados.

- O Sr. Campbell - disse o homem.

Brotou-lhe dos lábios ressequidos um suspiro de alívio e coloriram-se-lhe de novo as faces.

- Peça-lhe que entre, Francis.

Sentia-se de novo ele mesmo. Desprendera-se das garras da cobardia que o enleavam.





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