O criado inclinou-se e saiu. Alguns momentos depois entrava Alan Campbell, muito sério e pálido, mais pálido parecendo ainda pelo contraste com o negro do cabelo e das sobrancelhas.
- Alan! É muito amável. Agradeço-lhe o ter vindo.
- Era intenção minha nunca mais entrar em sua casa, Gray. Mas disse que era para si questão de vida ou de morte...
Tinha uma voz dura e fria. Falava lenta e ponderadamente. Havia uma expressão de desprezo no olhar severo e perscrutador com que fitou Dorian. Conservou as mãos nos bolsos do casaco de astracã e parecia não ter dado conta do gesto com que fora acolhido.
- Sim, é questão de vida ou de morte, Alan, e para mais duma pessoa. Sente-se.
Campbell sentou-se numa cadeira junto da mesa, e Dorian instalou-se em frente. Os olhos dos dois homens encontraram-se. Lia-se nos de Dorian uma piedade infinita. Sabia que era terrível o que ia fazer.
Após um penoso momento de silêncio, debruçou-se sobre a mesa e disse, muito serenamente, mas espiando o efeito de cada palavra sobre o homem que mandara chamar:
- Alan, num quarto fechado à chave, no último andar desta casa, num quarto em que não entra ninguém senão eu, está sentado a uma mesa o cadáver dum homem.