O Retrato de Dorian Gray - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 27 / 335

Ele não pensa com o seu próprio pensamento, nem arde com as suas paixões naturais. As suas virtudes não são para ele reais. Os seus pecados, se é que há pecados, são emprestados. Torna-se eco da música alheia, actor dum papel que não foi escrito para ele. O objectivo da vida é o desenvolvimento da própria personalidade. Realizar perfeitamente a nossa natureza - eis para o que nós estamos neste mundo. Hoje todos têm medo de si próprios. Todos esqueceram o mais alto de todos os deveres, o dever que cada um de nós tem para consigo mesmo. São caritativos, é claro. Dão de comer a quem tem fome e vestem os mendigos. As suas almas, porém, andam famintas e nuas. A coragem abandonou a nossa raça. Talvez até, na verdade, nós nunca a tivéssemos. O terror da sociedade, que é a base da moral, e o terror de Deus, que é o segredo da Religião, são as duas únicas coisas que nos governam. E todavia...

- Volte a cabeça um bocadinho para a direita, Dorian, como um bom rapaz - disse o pintor, absorvido pela sua obra, e tendo apenas dado conta de que no rosto do jovem fulgira uma expressão que até então nunca lhe conhecera.





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