O Retrato de Dorian Gray - Cap. 17: Capítulo 17 Pág. 285 / 335

Dorian recuou e percorreu com os olhos as grotescas criaturas que, em tão fantásticas posições, jaziam nos colchões esfarrapados. Fascinavam-no os membros cruzados, as bocas escancaradas, os olhos arregalados e baços. Sabia em que estranhos céus eles estavam sofrendo e que tenebrosos infernos lhes estavam ensinando o segredo de algum novo prazer. Estavam muito melhor do que ele, a quem o pensamento encarcerava. A memória, como doença horrível, ia-lhe devorando a alma. De quando em quando, parecia-lhe ver cravados nele os olhos de Basil Hallward. Contudo, sentia que não podia ali ficar; incomodava-o a presença de Adrian Singleton. Queria estar onde ninguém soubesse quem ele era. Queria fugir de si próprio.

- Vou para outra parte - disse, após um silêncio.

- Para o cais? Aquela gata danada está lá com certeza. Não a querem agora aqui.

Dorian encolheu os ombros.

- Estou farto das mulheres que amam. São muito mais interessantes as mulheres que odeiam. Além disso, lá a droga é melhor.

- É a mesma coisa.

- Agrada-me mais. Vem beber. Preciso de tomar qualquer coisa.

- Não quero nada.

- Não importa.

Adrian Singleton ergueu-se preguiçosamente e seguiu Dorian até ao bar. Um mulato, de turbante roto e casaco coçado, arreganhou os dentes num horrendo cumprimento, ao colocar-lhes na frente uma garrafa de aguardente e dois copos.





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