O Retrato de Dorian Gray - Cap. 17: Capítulo 17 Pág. 284 / 335

A um canto, com a cabeça enterrada nos braços, estava um marinheiro deitado sobre uma mesa, e junto do bar que marginava a sala estavam duas mulheres desabridas, que escarneciam dum velho que escovava as mangas do casaco com uma expressão de nojo.

- Pensa que está coberto de formigas - disse a rir uma delas, à passagem de Dorian.

O homem olhou para ela, espavorido, e desatou a gemer.

No extremo da sala havia uma escada que dava acesso a um quarto obscuro. Quando Dorian Gray galgou os três desconjuntados degraus, veio ao seu encontro um intenso cheiro a ópio. Sorveu-o a profundos haustos e as narinas estremeceram-lhe de prazer. À sua entrada, um jovem de cabelos loiros que, debruçado sobre um candeeiro, acendia um comprido e fino cachimbo, ergueu para ele os olhos e abanou a cabeça dum modo hesitante.

- Tu aqui, Adrian? - murmurou Dorian.

- Onde havia eu de estar? - respondeu, alheadamente. - Nenhum dos meus amigos me quer agora falar... - Pensava que tivesses saído de Inglaterra.

- O Darlington não fará nada. Afinal, meu pai pagou a conta. O George também não me fala... Deixá-lo acrescentou, com um suspiro. - Enquanto a gente tiver disto, não precisa de amigos... Acho que tive amigos demais.





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