O Retrato de Dorian Gray - Cap. 20: Capítulo 20 Pág. 320 / 335

- Sim - prosseguiu, voltando-se e tirando do bolso o lenço -, a sua arte havia decaído muito. Parecia-me haver perdido alguma coisa. Perdera um ideal. Quando você e ele deixaram de ser grandes amigos, deixou ele de ser grande artista. Que é que os separou? Suponho que ele o maçava. Se foi isso, ele nunca lhe perdoou. É pecha de todos os maçadores. A propósito, que é feito daquele admirável retrato que ele lhe pintou? Parece-me que nunca mais o vi depois de acabado. Oh! Lembro-me de você ter dito, há anos, que o havia mandado para Selby e que se extraviara ou fora roubado no caminho. Nunca conseguiu reavê-lo? Que pena! Era realmente uma obra-prima. Recordo-me de ter querido comprá-lo. Lamento não o ter feito. Pertencia ao melhor período de Basil. Desde então, a sua obra foi esse misto curioso de má pintura e boas intenções que habilita sempre um homem a ser qualificado de representante da arte britânica. Anunciou nos jornais? Devia tê-lo feito.

- Não me recordo. Suponho que sim. Mas, a falar verdade, nunca gostei do retrato. Estou arrependido de me ter prestado a servir-lhe de modelo. É-me odiosa a recordação desse quadro. Porque me fala dele? Recordava-me sempre aqueles curiosos versos duma peça - o Hamfel, creio - como são?





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