O Retrato de Dorian Gray - Cap. 20: Capítulo 20 Pág. 319 / 335

Pensa então que um homem que uma vez perpetrou um assassínio poderia tornar a cometer o mesmo crime? Não me diga isso!

- Oh! uma coisa qualquer torna-se para nós um prazer, se a fazemos muitas vezes - respondeu, rindo, Lord Henry. - É um dos mais importantes segredos da vida. Entendo, porém, que o assassínio é sempre um erro. A gente nunca deve fazer uma coisa de que não possa falar depois de jantar. Mas deixemos o pobre Basil. Desejaria poder acreditar que ele encontrou um fim realmente romântico, como você sugere; mas não posso. Talvez tenha caído dum ónibus ao Sena e o condutor abafou o escândalo. Sim, foi decerto esse o seu fim. Estou a vê-lo, jazendo de costas, no fundo dessas águas verde-escuro, com as pesadas barcaças a passarem-lhe por cima e compridas ervas e emaranharem-se-lhe nos cabelos... Sabe?

Não me parece que viesse a produzir muita obra de valor. Nos últimos dez anos havia decaído muito...

Dorian soltou um suspiro; Lord Henry atravessou a sala e começou a afagar a cabeça dum curioso papagaio de lava, grande ave de plumagem cinzenta, crista e cauda cor-de-rosa, que se baloiçava num poleiro de bambu. Quando o tocaram os seus dedos afilados, baixou as pálpebras brancas sobre os olhos negros e vítreos e começou a bambolear-se para cá e para lá.





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