Dorian Gray escutava, de olhos arregalados e atónito.
O ramo de lilás caiu-lhe da mão. Uma abelha veio zumbir-lhe em roda por um momento, adejando por sobre as minúsculas florinhas. O jovem observou-a com aquele estranho interesse com que nós procuramos prender-nos às coisas banais, quando nos assustam coisas de mais alta importância, ou quando nos abala alguma nova emoção para que não podemos achar expressão, ou quando algum pensamento que nos aterra nos assedia subitamente o cérebro e nos impele a ceder. Passado algum tempo, a abelha largou voo. Ele viu-a pousar sobre um convólvulo, que pareceu estremecer ao contacto e oscilou de mansinho.
De repente assomou o pintor à porta do atelier, acenando com a mão para eles entrarem. Os dois voltaram-se um para o outro e sorriram.
- Estou à espera! - gritou o pintor. - Venham! A luz está óptima e podem trazer os refrescos.
Levantaram-se e encaminharam-se juntos para a porta.