Duas borboletas verdes e brancas passaram por eles e, na pereira ao canto do jardim, começou um tordo a cantar.
- Está contente por me ter encontrado, Sr. Dorian Gray? - disse Lord Henry, fitando-o.
- Sim, estou contente. Pergunto: estarei sempre contente?
- Sempre! É uma palavra terrível! Faz-me tremer cada vez que a ouço. As mulheres gostam tanto de a empregar. .. Estragam todos os romances, tentando fazê-los durar eternamente. É, demais a mais, uma palavra sem significação. A única diferença entre um capricho e uma paixão eterna é que o capricho dura um pouco mais.
Ao entrarem no atelier, Dorian Gray pousou a mão no braço de Lord Henry.
- Nesse caso, seja a nossa amizade um capricho! - murmurou, corando da sua ousadia. Depois subiu para o estrado e retomou a sua pose.
Lord Henry estirou-se numa grande poltrona de verga e pôs-se a observá-lo. O silêncio era apenas cortado pelo roçar dos pincéis na tela ou pelos passos de Hallward, que, de quando em quando, recuava, para de longe melhor apreciar o seu trabalho. Nos raios de sol que se coavam através da porta dançava a poeira de oiro. Todas as coisas pareciam impregnadas do forte aroma das rosas.
Após um quarto de hora, Hallward parou de pintar, contemplou demoradamente Dorian Gray e examinou depois com atenção o retrato, mordendo a extremidade dum dos seus enormes pincéis e franzindo a testa.