Dir-se-ia que esse sorriso prazenteiro se lhe iria demorar nos lábios, mas, de repente, o artista levantou-se e, cerrando os olhos, colocou os dedos sobre as pálpebras, como se procurasse prender dentro do cérebro algum curioso sonho de que receava despertar.
- É o seu melhor trabalho, Basil, a melhor coisa que você tem feito - disse Lord Henry, languidamente.Com certeza vai mandá-lo no ano que vem à exposição de Grosvenor. A Academia é grande demais e vulgar demais. De todas as vezes que lá fui, ou havia tanta gente que eu não podia ver os quadros, o que era terrível, ou havia tantos quadros que eu não podia ver a gente, o que era pior. Grosvenor é, na realidade, o único lugar.
- Não penso mandá-lo a parte alguma - respondeu o artista, atirando para trás a cabeça, naquele seu jeito singular que, em Oxford, provocava o riso dos amigos. - Não! Não tenciono expô-lo!
Lord Henry arregalou os olhos e fitou-o com espanto, através das espirais azuis de fumo que caprichosamente se evolavam do seu cigarro fortemente opiado.