O Retrato de Dorian Gray - Cap. 6: Capítulo 6 Pág. 99 / 335

Detestava as afectações maternas.

Saíram. Desceram a soturna Rua Euston, que, vibrante de sol, parecia palpitar sob a viração da tarde. Os transeuntes olhavam com espanto para o rapaz desajeitado e mal vestido que acompanhava uma rapariga tão linda e tão graciosa, de maneiras tão gentis e delicadas. Era como um labrego que passeasse com uma rosa.

Jim franzia de vez em quando o sobrecenho ao surpreender o olhar investigador de algum transeunte. Desagradava-lhe ser alvo dos olhares dos outros. Nutria pela curiosidade alheia aquela aversão que só muito tarde se apodera dos homens de génio e que nunca abandona as pessoas vulgares. Sibyl, porém, nenhuma consciência tinha do efeito que produzia. O seu amor tremia-lhe, sorrindo, nos lábios. Ia pensando no Príncipe Encantador, e, para melhor nele poder pensar, não falava dele, mas tagarelava sobre o navio em que Jim ia embarcar, sobre o oiro que ele com certeza encontraria, sobre a maravilhosa herdeira, cuja vida ele um dia havia de salvar das mãos dos malfeitores. Pois ele não havia de ficar toda a vida marinheiro, moço de bordo, ou o que quer que fosse. Oh, não! Terrível existência a dum marinheiro! Imaginem-no enclausurado num horrendo navio, com ondas procelosas bramindo e açoutando-o por todos os lados, o vento rugindo e derrubando os mastros e fazendo em tiras as velas!





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