A República - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 12 / 290

— Mas os homens não se enganam a esse respeito, de modo que muita gente que lhes parece honesta não o é e vice-versa?

— Enganam-se.

— Para esses, então, os bons são inimigos e os maus amigos?

— Sem dúvida.

— E não obstante, consideram justo ser útil aos maus e prejudicial aos bons?

— Assim parece.

— Todavia, os bons são justos e incapazes de cometer injustiças.

— É verdade.

— Portanto, segundo o teu raciocínio, é justo fazer mal aos que não cometem injustiças.

— De modo nenhum, Sócrates — disse ele —, porquanto o raciocínio parece errado.

— Nesse caso — continuei —, é justo ser prejudicial aos maus e útil aos bons?

— Essa conclusão parece-me melhor que a precedente.

— Portanto, para muita gente, Polemarco, que se enganou acerca dos homens, a justiça consistirá em ser prejudicial aos amigos — dado que têm maus por amigos — e ser útil aos inimigos — que são, efectivamente, bons. E assim afirmaremos o contrário do que atribuíamos a Simónides.

— Não há dúvida de que assim parece — disse ele. — Mas corrijamos; com efeito, corremos o risco de não termos definido exactamente o amigo e inimigo.

— Como os definimos, Polemarco?

— Aquele que parece honesto é um amigo.

— E agora — inquiri — como vamos corrigir?

— Aquele que parece — respondeu ele — e que é honesto é um amigo; aquele que parece, mas não é, honesto, parece, mas não é, um amigo; e, quanto ao inimigo, a definição é a mesma.





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