A República - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 43 / 290

— Nesse caso, analisa agora isto: não tem a alma uma função que nada, a não ser ela, poderia desempenhar, como vigiar, comandar, deliberar e o resto? Pode-se atribuir estas funções a outra coisa que não a alma e não temos o direito de dizer que elas lhe são próprias?

— Não se pode atribuí-las a nenhuma outra coisa.

— E a vida? Não diremos que é uma função da alma?

— Certamente — respondeu. — Portanto, afirmaremos que a alma também tem a sua virtude própria?

— Afirmá-lo-emos.

— Ora, Trasímaco, a alma desempenhará bem essas funções se for privada da sua virtude própria? Ou será impossível?

— Será impossível.

— Por conseguinte, é forçoso que uma alma má comande e vigie mal e que a alma boa faça bem tudo isso.

— É forçoso.

— Ora, não concordamos que a justiça é uma virtude e a injustiça um vício da alma?

— Concordámos, com efeito.

— Portanto, a alma justa e o homem justo viverão bem e o injusto mal? — Assim parece — disse ele —, segundo o teu raciocínio.

— Mas com certeza que aquele que vive bem é feliz e afortunado e o que vive mal o contrário.

— Quem duvida?





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