Contos de Mistério - Cap. 4: DE PROFUNDIS
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Assim foi apresentado, assim foi posto em letra de imprensa e assim foi certificado por uma Sociedade científica, e com esse carácter correu mundo, com muitos outros casos, em apoio da teoria recente sobre a telepatia. Pela minha parte, creio que a telepatia é um facto demonstrado, mas arrancaria este caso do conjunto dos que se apresentam como provas demonstrativas. Não acredito que aquele fosse o espectro de Vansittart, mas que naquela noite vimos o próprio Vansittart em pessoa, que saltou das profundezas do Atlântico para o clarão lunar da atmosfera. Sempre acreditei que, devido a uma estranha casualidade - uma dessas casualidades tão improváveis que costumam ocorrer constantemente -, o nosso barco parou ria calmaria mesmo no lugar em que aquele homem fora sepultado uma semana antes.

O médico do barco disse-me que o peso de chumbo que lhe puseram nos pés não estava apertado com muita segurança e que no decurso de sete dias ocorrem alterações num cadáver que o levam para a superfície. Como se elevava das profundezas a que tinha descido por efeito do peso, pôde muito bem, ao perder este, adquirir uma velocidade ascensional que o retirou completamente para fora de água. É assim que explico aquele fenómeno e se me perguntarem o que foi feito do cadáver, limitar-me-ei a recordar-lhes o ruído de dilaceração e de estalidos e o remoinho das águas. O tubarão vive das presas que faz na superfície, e abunda naquelas paragens.





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