A levante, o céu clareava lentamente. A luz fria e cinzenta permitia-nos agora ver até uma certa distância. A casa, maciça e quadrada, com as suas janelas escuras, vazias, e altas paredes nuas, erguia-se atrás de nós, triste e abandonada. Atravessámos os terrenos em frente da casa, passando pelas valas e buracos que os sulcavam e entrecortavam. Aquele lugar, cheio de montes de terra e estranhos arbustos, possuía uma atmosfera maléfica que condizia com a tragédia sinistra que sobre ele se abatera.
Ao chegar ao muro que rodeava a propriedade, Toby percorreu-o, ganindo ansiosamente, e parou depois num canto tapado por uma pequena faia. No sítio onde o muro formava um ângulo havia várias fendas entre os tijolos, que se apresentavam gastos como se já tivessem sido usados muitas vezes como escada. Holmes empoleirou-se no muro e, pegando no cão, fê-lo saltar para o outro lado.
- Aqui está a marca da mão do homem da perna de pau – observou enquanto eu subia. - Veja esta ligeira mancha de sangue sobre a argamassa branca. Que sorte não ter chovido muito desde ontem! De certeza que o cheiro se conservou sobre a estrada, apesar de já terem passado vinte e oito horas.
Confesso que tive algumas dúvidas acerca disso quando pensei no imenso tráfego que passara pela estrada de Londres naquele lapso de tempo.