O Sinal dos Quatro - Cap. 1: 1 - A Ciência da Dedução Pág. 7 / 133

- Neste caso, não há dúvida de que assim é - retorqui, depois de pensar um pouco. - Trata-se, contudo, de algo muito simples, como afirmou. Considerar-me-ia impertinente se submetesse as suas teorias a um teste mais severo?

- Pelo contrário - respondeu -, isso impedir-me-ia de tomar uma segunda dose de cocaína. Ser-me-á grato considerar qualquer problema que me queira apresentar.

- Costuma dizer que é difícil alguém usar diariamente um objecto sem lhe imprimir a marca da sua individualidade de tal modo que um observador experimentado a possa interpretar. Bem, tenho aqui um relógio que recentemente passou a pertencer-me. Não se importaria de me dar uma opinião acerca do carácter ou dos hábitos do anterior proprietário?

Estendi-lhe o relógio, ligeiramente divertido com a situação, pois o teste era, pensava eu, impossível de solucionar. Pretendia que fosse uma lição que corrigisse a atitude um pouco dogmática que ele por vezes assumia. Sopesou o relógio na mão, olhou fixamente para o mostrador, abriu a tampa de trás e examinou o mecanismo, primeiro a olho nu e depois com uma potente lente convexa. Era-me difícil não sorrir ao ver a sua cara desanimada, quando, por fim, fechou o relógio e o devolveu.

- Não me fornece muitas indicações - observou. - O relógio foi limpo recentemente, o que me priva dos factos mais sugestivos.

- É verdade - retorqui. - Foi limpo antes de me ser enviado.

Pensei para mim próprio que o meu companheiro dera uma desculpa muito pouco convincente para encobrir o seu falhanço. Que indicações poderia ele encontrar num relógio sujo?

- Embora insatisfatória, a minha pesquisa não foi completamente inútil - observou, fitando o tecto com um olhar baço e sonhador. - Espero que me corrija se errar, mas julgo que o relógio pertenceu ao seu irmão mais velho, que o herdou do seu pai.





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