Eneida - Cap. 7: Os Troianos Desembarcam na Itália Pág. 124 / 235

OS TROIANOS DESEMBARCAM NA ITÁLIA

Nessa época morreu também outra pessoa muito querida de Eneias, a sua ama Caieta, a um dia de viagem, por mar, da foz do Tibre. O bom troiano cremou-lhe o corpo em alta pira, segundo os rituais e baptizou aquelas prauas com o nome da velha serva que durante tantos anos o acompanhara. Terminados os funerais, fizera-se de novo ao mar e navegaram toda a noite com a luz clara da lua iluminando as águas. Costearam o litoral próximo do promontório Circeu, cujos bosques ressoam com os cânticos da filha do Sol, Circe, a feiticeira. Nos seus soberbas palácios, ela queima o cedro cheiroso para iluminar a noite. Ouvem-se o rugir e o bramir de ledes, ursos e lobos enfurecidos. São todos homens que a cruel sacerdotisa transformou em animais por meio de beberagens mágicas, dando-lhes o aspecto de feras. Para que os troianos não sofressem os sortilégios do local, houve por bem Neptuno enfunar-lhes as velas dos barcos para que, rápidos, se afastassem daquelas terras amaldiçoadas e águas revoltas.

Já o mar se avermelhava com os raios do Sol e, elevada ao éter, a dourada aurora surgiu no seu coche cintilante, quando os ventos amainaram e toda a brisa cessou repentinamente. Fazendo funcionar os remos, os barcos dardanios avançaram mais lentamente, quando Eneias, da proa da nau-capitania, divisou o Tibre, amarelo e redemoinhado, que desaguava no mar. Nas margens e nos ares, várias aves acostumadas àquelas paragens voluteavam e enchiam a atmosfera com os seus gorjeios. Eneias ordenou que aproassem para terra e alegres entraram na foz do rio sombrio.

O rei Latino, na ocasião já velho e alquebrado, governava pacificamente os seus territórios e cidades. Filho do profeta Fauno, que proclamava ser descendente do próprio Saturno, seria assim o primitivo tronco de toda a raça. Não rendo filhos, pois o único varão fora-lhe arrebatado ainda jovem pela morte, Latino possuía, contudo, uma formosa filha, Lavínia, agora em idade casadoira. Havia muitos pretendentes, no grande Lácio e por toda a Ausónia, à mão da princesa. Entre eles destacava-se, pela sua beleza e linhagem, Turno, a quem a rainha, esposa de Latino, desejava extremamente ter como genro, ao que no entanto se opunham os mais terríveis presságios dos deuses.





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