Camões - Cap. 6: CANTO SEXTO Pág. 101 / 177

III

Do Escorial a onça refalsada

Os negros fios da ambição urdia

Que, por mãos de vendidos conselheiros

Em labirinto escuro enrevezavam

Os descuidados passos do monarca.

Murmurava em silêncio malsofrido

Da nobreza real o escasso resto

Que do antigo despejo lusitano

Os francos sentimentos conservava.

Impera o fanatismo, a hipocrisia:

No profanado altar, fogueiras, vítimas,

Do oriente ao ocidente lhes afumam

O incenso da cobiça, e o vapor negro

De sangue e morte que regala os monstros.

Em taças de ouro, com prazer de tigres,

De lágrimas de viúvas se embriagam;

E os suspiros dos órfãos desvalidos,

Como deleite de suave música,

Os danados ouvidos lhes afagam.

IV

Eco antigo do nome lusitano

Memórias de Pachecos e Albuquerques

Sós continham ainda os inimigos

Do vacilante império.





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