Camões - Cap. 1: CANTO PRIMEIRO Pág. 19 / 177

O amigo ausente, a solitária amante,

O pai longe, o filhinho em terra estranha,

Imagens são que do vapor das terras

Amigas fadas no crepusc’lo formam.

E ante os olhos volteiam d’alma absorta

N’hora sagrada ao génio da saudade.

Oh! serei eu nos sonhos do sepulcro,

Entre o nada das cinzas, - quando a noute,

Qualquer que seja o ângulo do mundo

Em que meus pés se poisem, me não traga

Lembranças dos momentos deliciosos

Que, nesse intercalar de dia e noite,

Da nebulosa Álbion gozei nos campos,

Quando no berço teu, bardo sublime,

Inimitável, único, espraiava

Por infindas planícies d’alvo gelo

Os desleixados olhos, e topava,

Ao cabo lá da vastidão, coas cimas

Das elevadas grimpas que se aguçam

Sobre as arcadas símplices do templo,

Entre as choupanas da vizinha aldeia;

E se me afigurava à mente alheada

Ouvir o canto fúnebre das harpas

Que da sensível Julieta ao túmulo

As nénias acompanham.





Os capítulos deste livro