Camões - Cap. 1: CANTO PRIMEIRO Pág. 22 / 177

E sufocado ao coração reflecte.

Aguda foi a dor, acerbo o espinho

Que esse ai lhe pungiu d’alma. - Quem soubera

Os mistérios desse ai! Quem revelara

Os segredos do incógnito guerreiro!

Consome-o acaso a eiva da doença?

De mal vingada afronta a injúria o rala?

Injustiças dos homens o perseguem?

Ou são penas de amor? - Silêncio! deixa

Ao coração do triste o seu segredo.

Espreitar indif’rente os pensamentos

Que os lábios do infeliz fecham no peito,

Curiosidade é vã, mal generosa

E de ânimo insensível: não exijas,

Se o podes consolar, preço tão duro

Por teus confortos. Pouco vale a destra

Que não enxuga as lágrimas do aflito,

Sem lhe rasgar primeiro os seios d’alma

Para Ilhe esquadrinhar do pranto a causa.

XIX

O escaler abicou na praia amiga;

E a suspirada terra enfim pisaram

Os desafeitos pés.





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