Camões - Cap. 1: CANTO PRIMEIRO Pág. 4 / 177

que a vida me entravavam,

Adoçaste o amargor, e com benigna

Destra cravaste à roda do infortúnio

Cravo que o giro bárbaro lhe impeça;

A ti, a quem a vida, que se me ia

Em desalento, em desconforto, devo,

A ti minhas endechas mal cantadas

Nas solidões do exílio, onde as repetem

Os ermos ecos de estrangeiras grutas,

A ti meus versos consagrei na lira:

Quebrada sobre o escolho da desgraça

Inda lânguidos sons desfere a medo,

Que a teu fiel ouvido vão memórias

Lembrar da pátria e recordar do amigo.

IV

Ouves? Rija celeuma aos ares sobe

E fere os ventos que nas ondas folgam.

- «Terra, terra!» bradou gajeiro alerta.

- «Terra!» ecoa confusa vozearia

Da marítima turba: Oh! voz querida,

Doce aurora de gozo e de esperança

Ao coração do nauta enfraquecido,

Do alquebrado sequioso passageiro,

Que a esposa, os filhos, ou talvez a amante,

Nessa voz doce e grata lhe alvejaram.





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