Camões - Cap. 3: CANTO TERCEIRO Pág. 54 / 177

XIV

- «Se é crime» continuou «ter alma e vista,

Foi essa a única ofensa que lhe hei feito

Ao vingativo conde. Por má sorte,

Laços fatais de sangue lhe prendiam

De meus suspiros o adorado objecto.

O nascimento igual, a igual fortuna,

Tudo por mim, tudo por nós falava.

Cobiça empederniu seu duro peito:

E o soldado só de honra herdeiro rico

Que podia esperar? Seu vão orgulho

Se envileceu, de baixo, a perseguir-me.

XV

«Nada na corte obtive contrastado

Por tão forte inimigo, eu sem fortuna,

Sem arrimo, sem pai. - Como eu, perdido

Entre o obscuro tropel dos desvalidos

Que o sangue pela pátria hão barateado

Para perder à míngua o resto dele,

Meu pai, de pura mágoa e de despeito,

Fenecera em meus braços. - Só no mundo,

Que me restava? Perecer como ele,

Ou por um nobre feito despicar-me,

Vingar a afronta duma pátria ingrata.





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