O Garimpeiro - Cap. 14: XIV – A LAVADEIRA Pág. 117 / 147

- Porventura já não sou tão pobre, Elias? e deixarei de sê-lo, se me abandonares?... então antes queres me ver sofrendo sozinha os rigores da pobreza, do que em tua companhia!

- Mas olha, Lúcia; tu és muito moça, formosa e bem educada... não te faltarão maridos que, mais felizes do que eu, possam dar-te no mundo a posição de que és tão digna...

- Cala-te!... não digas mais tal blasfémia, eu te peço pelo nosso amor. Antes miserável contigo do que milionária com um Leonel, ou com quem quer que seja. Mas tu não irás mais para longe; fica por aqui mesmo na nossa terra; eu te peço pelo nosso amor, por tudo quanto mais queres neste mundo ou no outro... pela alma de teu pai e de tua mãe... em toda a parte se ganha com que passar a vida, e que necessidade temos nós de riquezas; o nosso amor será a nossa riqueza, e porventura não basta ele para nos tornar felizes?

- Sossega, minha querida Lúcia; não irei longe. O teu amor, assim como me enche o coração de felicidade, dá-me também toda a coragem e toda a confiança no futuro. É impossível que Deus não abençoe o trabalho de quem se esforça para amparar e fazer a felicidade de um anjo, como tu és. Mas olha, Lúcia, não quero, não devo pedir-te a teu orgulhoso pai, enquanto desta destra que vou oferecer-te, não puder escorregar um pouco de ouro.

- Ah... mas se isso não for possível, me abandonarás?...

- Nunca, minha Lúcia, nunca! serei teu, sempre teu.

- Basta!... adeus! já estamos aqui há muito tempo; alguém pode nos ver...

- Um instante ainda: escuta, Lúcia. Da minha malfadada fortuna do Sincorá restam-me ainda alguns destroços. Vou pô-los em jogo. Não sairei destes arredores. Saberás notícias minhas, e eu virei ver-te todas as vezes que puder; não sei que pressentimento me diz que seremos felizes, muito felizes.





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