O Garimpeiro - Cap. 15: XV – ABNEGAÇÃO Pág. 121 / 147

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Elias por si só bem pouco se importaria com a pobreza; estava afeito a suportá-la desde longo tempo. Mas cortava-lhe o coração ver a sua querida Lúcia, nascida e educada sempre no meio da abastança, sofrendo privações e quase reduzida à miséria, e condenada a trabalhar com suas próprias mãos para prover à sua subsistência, de seu pai e de sua irmãzinha.

Blasfemava contra o céu e maldizia da Providência, que lhe negava sua proteção naquela nobre e santa tarefa em que se empenhava para arrancar à miséria aquela criatura digna do céu.

Desejava morrer, e a ideia do suicídio como um fantasma lúgubre lhe esvoaçava de contínuo pela mente. Mas lembrava-se de Lúcia, de Lúcia na miséria, e compreendia que era preciso viver para ela. Quem lhe poderia valer, se ele lhe faltasse?... arrancar-se a existência naquela ocasião era talvez roubar a Lúcia o último, se bem que fraco arrimo, que lhe restava neste mundo. Naquelas circunstâncias já não era somente o simples amante de Lúcia; considerava-se um irmão, um pai.

Elias, completamente desalentado, abandonou de todo os seus serviços, e estava como que de braços cruzados em frente de seu destino inexorável a contemplar-lhe a sinistra catadura, sem ousar lutar contra ele e esperando que o esmagasse.

Elias tinha-se estabelecido no Comércio de baixo, chamado de Joaquim Antônio, que fica rio abaixo, a perto de uma légua da povoação principal. Há dois dias, desamparado da esperança, tinha abandonado o trabalho, e não fazia mais do que cismar na sua triste sorte, entregue às mais pungentes angústias e à mais cruel perplexidade.

Na tarde do segundo dia, estando à janela da casinha que habitava, envolto em suas cismas ordinárias, um rapaz entregou-lhe uma carta.

Abriu- a imediatamente; era de Lúcia e dizia assim:

“Meu querido Elias.





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