O Garimpeiro - Cap. 15: XV – ABNEGAÇÃO Pág. 126 / 147

Adeus; tem coragem para entregar teu destino a quem pode amparar-te.

»Quanto a mim, vou para bem longe amar-te ainda e sempre, até que a dor e a saudade venham pôr termo a meus tristes dias... Elias.”

Quando Elias terminou esta carta, escrita com as lágrimas dos olhos e o fel do coração, sua fronte, coberta de palidez cadavérica, apesar do fresco da manhã que girava pela sala, gotejava bagas de suor frio. Dir-se-ia um condenado que lavrava com a própria mão sua sentença de morte.

Elias mesmo quis ser o portador de sua carta até à casa de sua velha enfermeira, onde encarregaria a esta de faze-la chegar às mãos de Lúcia.

O sol que surgia dardejava seus raios horizontais por entre as copas das árvores seculares, restos da antiga floresta, que aqui e acolá projetavam sombras gigantescas pelas ribanceiras do rio, quando Elias montou a cavalo, e dirigiu-se a seu destino, absorto em seus tristes pensamentos, e procurando fortalecer-se na nobre e generosa resolução que acabava de tomar. Estaria pouco mais ou menos no meio do caminho, ladeado de distância em distância de pequenos ranchos, que costeando a margem do ribeirão seguia para o Comércio da Cachoeira, quando em certa altura ouviu uns gemidos abafados que pareciam sair de dentro de uma miserável choupana, quase escondida entre a capoeira, que se avistava a uns cinquenta passos da estrada, quase à beira do rio. Parou e escutou por alguns instantes; os gemidos continuaram. Não podia haver dúvida; era algum desgraçado que sofria, e morria talvez à míngua e à fome naquele miserável casebre, ou também quem sabe? Ali gemia a vítima de algum horroroso atentado, desses que tão comumente se perpetravam na Bagagem, naquela época. Elias não era homem de ânimo a presenciar o sofrimento de quem quer que fosse, sem procurar socorre-lo de qualquer maneira.





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