Mas Elias, depois de refletir melhor, teve medo de dar este passo e desconfiou da força de seu próprio coração. Julgou que por meio de uma carta conseguiria o mesmo resultado, evitando uma cena dilacerante, a que nem ele nem talvez ela pudessem resistir. Pegou na pena e escreveu a Lúcia a seguinte carta:
“Querida Lúcia: O destino me persegue, o céu me abandona, e eu nunca poderei ser mais que um esforço perene para a tua felicidade e de tua família. O céu votou-me a um perpétuo martírio; forçoso me é aceita-lo e resignar-me, porque é loucura querer lutar contra a omnipotência do destino. O mesmo sacrifício, a que não há muito tempo te curvaste em virtude de um dever santo, hoje de novo nos é imposto a nós ambos pelo nosso inexorável destino.
»Resignemo-nos, minha querida, já que é essa a vontade do céu, e pede a Deus que nos inspire a resolução e coragem necessária para não desfalecermos no cumprimento deste doloroso dever. Cumpre-nos renunciar para sempre a este amor tão puro e tão ardente que era o sonho dourado do nosso porvir, e dizer eterno adeus à esperança e à felicidade. Embora o coração se nos rasgue entre as garras da angústia, a consciência estará pura e serena; e se nos não é possível ser unidos neste mundo pelo amor, ao menos procuraremos ser dignos um do outro pela virtude. Não creias que com esta triste separação vão quebrar-se os protestos e juramentos santos que proferimos nos nossos dias de esperança; não, porque nossas almas nunca se separarão: e sempre se marão, porque o amor é uma chama que o sopro do destino não pode apagar. E, se acaso estão rotos os juramentos de nosso amor, foi a mão de Deus que os desatou, impondo-nos um dever mais alto e mais santo.
»Adeus, Lúcia!... Deus me é testemunho que, ao romper estes tão suaves laços, rompem-se-me também uma por uma todas as fibras do coração.