O Garimpeiro - Cap. 16: XVI – O MORIBUNDO Pág. 130 / 147

Em um girau de pau roliço, desses cujos pés são forquilhas cravadas no chão, naquela espelunca escura e úmida, sobre um imundo colchão de palha, estava estirado um velho caboclo, esquálido e macilento, arquejando convulsivamente e entregue aos mais dolorosos sofrimentos. Espetada à parede, junto à cabeceira, uma negra candeia de ferro lhe dava sobre o rosto bronzeado um lúgubre clarão amarelento.

- Ah!... és tu, meu pobre Simão! - exclamou o moço com um tom de assombro e de angústia inexprimível, apenas fitou os olhos na fisionomia do velho. - És tu, meu bom Simão! - continuou sentando-se à beira do pobre leito, e tomando entre as suas as mãos do velho camarada. - Perdoa-me, meu Simão; sou eu o culpado de aqui jazeres assim à míngua!...

- Ah! meu patrão! meu patrão! - bradou o velho fazendo um esforço supremo para levantar-se e erguendo ao céu os braços descarnados; - bendito seja Deus!...

- Ah! já eram conhecidos!... - rosnou com voz trêmula a velha que se tinha postado à porta da alcova, e com os olhos esbugalhados e torvos contemplava cheia de furor aquela cena. -Tanto melhor para mim!... Olá, meu moço, já que veio tomar conta da casa com tanta sem-cerimónia, fique-se por aí, e arrume-se lá com seu doente, que eu aqui não ponho mais os meus pés.

- Vai-te com Deus ou com o diabo, mulher infernal; nem nunca mais me apareças, que não fazes falta nenhuma.

- Que eu vou, é sem dúvida; Vmcê. quando veio aqui tentar a gente, já veio de má tenção... mas olhe, meu senhorzinho, que talvez não leve o bocado à boca. Às vezes a gente vai buscar lã, e sai tosquiado.

Elias mal ouviu estas palavras, que a velha ao retirar-se ia resmungando entre as queixadas.

- Foi Deus, meu amo, - disse o velho com voz arquejante, e nos olhos já quase embaciados pelas sombras da morte divisava-se um lampejo de alegria - foi Deus, que o trouxe aqui agora.





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