.. Eu ia morrer com o coração tão triste... ah! esta velha!... esta velha é o diabo que me entrou pela casa. Deus me perdoe!...
- Não te embaraces com ela, Simão; já lá se foi...
- Não creia, patrão, há-de andar por aí rondando para nos escutar. Vá ver primeiro, patrão, tenha paciência; e volte depressa. Tenho muito que lhe contar, e não sei se a morte me dará tempo.
Elias, cheio de curiosidade e assombro, saiu sutilmente da alcova e foi rodear a cabana. A velha estava de feito do lado de fora com o ouvido colado à parede do quarto, onde se achava o moribundo. Apenas porém pressentiu Elias, foi-se retirando e resmungando horríveis pragas.
- Mau fim tenhas tu, velho feiticeiro, e a teu louco patrão, - rosnava a velha. É esse o pago que me dás de te ter aguentado até aqui com toda a paciência!...
- Cala-te, velha bruxa!... se te encontrar aqui mais a espreitar e escutar, atiro-te com um pau a vontade de voltar mais cá.
A velha amedrontada com a ameaça de Elias que há pouco tivera razão para crer que não ficaria só em palavras, sem nunca deixar de resmungar pragas e maldições, foi recolher-se à sua casa que ficava a uma centena de passos.
Elias voltou pressuroso ao quarto do enfermo.
- Agora podes falar, Simão, - disse sentando-se à beirada do girau. - Ninguém nos ouve; estamos completamente sós... mas não... espera. Vou ver os meios de procurar-te algum socorro... coitado do meu Simão!... aqui tão desamparado!... e nas garras desta bruxa maldita!... vou mandar ver um médico.
- Qual médico, patrão!... não tome esse trabalho... uma a duas horas de vida é o mais que me resta... se tanto...
- É o que pensas, meu pobre Simão; quem sabe?... Em todo caso não posso deixar-te morrer assim à míngua de socorro.