O Garimpeiro - Cap. 7: VII- O SACRIFÍCIO Pág. 62 / 147

- O céu te abençoe, querida filha; nem eu esperava outra coisa da bondade de teu coração e da nobreza de teus sentimentos. Não te arrependerás, eu te asseguro: Leonel é um excelente moço, que saberá fazer-te feliz, e Deus abençoará teu casamento, porque o mereces.

- Serei feliz!... por certo!... - murmurou Lúcia consigo; ao menos abreviarei o meu martírio.

- Posso, portanto, Lúcia - continuou o Major - assegurar desde hoje ao senhor Leonel que dás o teu consentimento?...

- Meu pai tem a minha palavra, e de hoje em diante pode dispor de mim, como lhe aprouver.

O pai saiu satisfeitíssimo com o resultado desta última tentativa, porque não sabia medir o alcance e a importância do cruel e doloroso sacrifício que acabava de impor a sua filha. Homem de alma fria, posto que boa, julgava que as paixões sinceras e profundas não existem senão nas novelas, e que os sentimentos da mulher não são mais do que caprichos da imaginação, que com o tempo se desvanecem.

Lúcia, acabrunhada sob o peso do sacrifício a que acabava de dedicar-se para a felicidade de seu pai e de sua irmã, foi sentar-se junto a uma mesa, e escondendo a cabeça entre os dois lindos braços nus, aí ficou por muito tempo abandonando o coração aos golpes da dor que o torturava.

A voz de Joana veio despertá-la.

- Sinhazinha, aqui está isto, que lhe mandaram entregar.

Lúcia levantou a cabeça e fitou em Joana os olhos úmidos de lágrimas.

Joana entregou-lhe uma carta; Lúcia tomou-a, reparou no sobrescrito e um rápido estremecimento convulsivo lhe percorreu o corpo. Rasgou com a mão trémula a carta e leu o seguinte:

“Minha Lúcia. Cá de longe, a mais de duzentas léguas de distância, participo do prazer que sentirás ao ler esta carta, pois nem um momento ainda duvidei da sinceridade e constância do teu amor.





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