A fortuna, que aí sempre se me mostrou esquiva, sorriu-me aqui no Sincorá. Graças a Deus, tenho feito excelentes negócios. Enfim, Lúcia, já sou rico, ao menos para nossa terra. Não me é possível estar lá no prazo que te marquei, mas faço-te chegar esta carta para te tranquilizar. Em breve lá estarei. Eu quisera ter asas e voar para junto de ti... Sou feliz, só as saudades me atormentam. Adeus, Lúcia; até breve. Teu Elias”.
Descrever o que se passava na alma de Lúcia, enquanto com mão trémula e olhar desvairado percorria esta carta, é coisa que não cabe no possível.
Uma vertigem se apoderou dela; apenas teve tempo para amarrotar depressa aquela carta fatal e esconde-la no seio. De pálida que estava, tornou-se lívida, os olhos se lhe escureceram, e teria caído da cadeira em que estava, se Joana, que ficara ao pé dela, não a tivesse amparado.
- Santa Virgem! - exclamou assustada a rapariga, sacudindo a carta.
- Que tem! que tem, sinhazinha?...
Mas Lúcia ainda não tinha perdido o vigor de sua bela organização, e em poucos instantes voltou daquele breve delíquio.
- O que é isto, menina?... o que é que está sofrendo?... fale, não oculte nada à sua negra, exclamou a solícita escrava. Eu vou falar com nhonhô para mandar chamar médico.
- Não, Joana, não é preciso; não digas nada a meu pai, eu te peço. Isto passa já; foi uma vertigem, porque passei mal a noite; mas já estou melhor.
Ah! por que não chegou uma hora mais cedo aquela carta fatal? teria sido redenção daquela pobre alma que penava entre horrorosos martírios; teria aberto para ela um horizonte de esperanças e venturas. Mas naquela ocasião era como nuvem negra que acabava de escurecer para sempre o horizonte de seu porvir.