O Garimpeiro - Cap. 11: XI – DE MAL A PIOR Pág. 90 / 147

Mas seus amigos tiveram o cuidado de dissuadi-lo, fazendo-lhe ver que nenhum desdouro sofria em sua honra em consequência do desatino de um louco rematado; que ele seria tão louco como o seu ofensor se fosse arriscar a sua existência nas garras de uma fera intratável, por motivos de pundonor; que se vingava do coice de um burro, ou da cornada de um touro bravio.

Leonel, que não primava pela coragem, e que sabia quanto o seu adversário era vigoroso e destro no manejo de toda a espécie de armas, mostrou ceder com dificuldade a estes conselhos, reservando-se todavia interiormente o direito de tomar alguma cobarde e traiçoeira vingança, se porventura tivesse ocasião.

A riqueza, principalmente quando é acompanhada de um verniz de cortesia, generosidade e cavalheirismo, é sempre cortejada e adulada.

Leonel tinha pois uma numerosa roda de aduladores, que só para não incorrerem em seu desagrado deixaram de cumprir um dever de humanidade para com o pobre moço, que jazia na prisão sozinho, abandonado, sem ser visitado por quase ninguém.

Elias passou essas amargas horas, umas vezes sepultado em profundo abatimento, numa letargia da alma e do corpo, outras em acessos de raiva e exasperação, esbravejando, vociferando, e dando com a cabeça pelas paredes. Estes transportes de furor ainda mais confirmaram a crença em que estavam, de ter ele caído em alienação mental em razão dos horríveis contratempos que o tinham fulminado naqueles últimos dias. O infeliz bem via e conhecia os motivos do abandono em que o deixavam seus conterrâneos por amor de um astuto aventureiro que os soubera engordar, e os lamentava do fundo da alma: mas não podia refletir, sem estremecer e encher-se de furor, na sorte que esperava a pobre Lúcia, nas





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