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Capítulo 10: Capítulo 10

Página 260
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Três semanas depois, por uma tarde quente, com um céu triste de trovoada, e no momento em que estavam caindo algumas gotas grossas de chuva, - Carlos apeava-se de um coupé de praça, que viera parar, devagar, à esquina da Patriarcal, com os estores verdes misteriosamente corridos. dois sujeitos que passavam sorriram-se, como se o vissem escoar-se desjeitosamente de uma portinha suspeita. E com efeito a velha traquitana de rodas amarelas acabava de ser uma alcova de amor, perfumada de verbena, durante as duas horas que Carlos rolara dentro dela, pela estrada de Queluz, com a Sr.ª condessa de Gouvarinho.

A condessa tinha descido no largo das Amoreiras. E Carlos aproveitara a solidão da Patriarcal para se desembaraçar do calhambeque de assento duro, onde durante a última hora sufocara, sem ousar descer as vidraças, com as pernas adormecidas, enfastiado de tantas sedas amarrotadas e dos beijos intermináveis que ela lhe dava na barba...

Até aí, durante essas três semanas, tinham-se encontrado numa casa da rua de Santa Isabel, pertencente a uma tia da condessa que fora para o Porto com a criada, deixando-lhe a chave da casa e o cuidado do gato. A boa titi, uma velha pequenina, chamada miss Jones, era uma santa, uma apostola militante da Igreja Anglicana, missionária da Obra da Propaganda; e todos os meses fazia assim uma viagem de catequização à província, distribuindo Bíblias, arrancando almas à treva católica, purificando (como ela dizia) o tremedal papista... Já na escada havia um cheirinho adocicado e triste a devoção e a virgem velha: e no patamar pendia um largo cartão, com um dístico em letras de ouro entrelaçadas de lírios roxos, rogando aos que entravam que perseverassem nas vias do Senhor! Carlos entrou, tropeçando logo num montão de Bíblias. O quarto todo era um ninho de Bíblias; havia-as às pilhas por cima dos móveis, transbordando de velhas chapeleiras, misturadas a pares de galochas, caídas para o fundo da bacia de assento, todas do mesmo formato, entaladas numa encadernação negra como numa armadura de combate, carrancudas e agressivas!

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pág. 260 (Capítulo 10)

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 260

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605