Os Maias - Cap. 4: Capítulo 4 Pág. 84 / 630

Trazia a barba toda, muito fina, castanho-escura, rente na face, aguçada no queixo - o que lhe dava, com o bonito bigode arqueado aos cantos da boca, uma fisionomia de belo cavaleiro da Renascença. E o avô, cujo olhar risonho e húmido transbordava de emoção, todo se orgulhava de o ver, de o ouvir, numa larga veia, falando da viagem, dos belos dias de Roma, do seu mau humor na Prússia, da originalidade de Moscovo, das paisagens da Holanda...

- E agora? perguntou-lhe o Sequeira, depois de um momento de silêncio em que Carlos estivera bebendo o seu cognac e soda. Agora que tencionas tu fazer?

- Agora, general? respondeu Carlos, sorrindo e pousando o copo. Descansar primeiro e depois passar a ser uma glória nacional!

Ao outro dia, com efeito, Afonso veio encontrá-lo na sala de bilhar - onde tinham sido colocados os caixotes - a despregar, a desempacotar, em mangas de camisa e assobiando com entusiasmo. Pelo chão, pelos sofás, alastrava-se toda uma literatura em rumas de volumes graves; e aqui e além, por entre a palha, através das lonas descosidas, a luz faiscava num cristal, ou reluziam os vernizes, os metais polidos de aparelhos. Afonso pasmava em silêncio para aquele pomposo aparato do saber.

- E onde vais tu acomodar este museu?

Carlos pensara em arranjar um vasto laboratório ali perto no bairro, com fornos para trabalhos químicos, uma sala disposta para estudos anatómicos e fisiológicos, a sua biblioteca, os seus aparelhos, uma concentração metódica de todos os instrumentos de estudo...

Os olhos do avô iluminavam-se ouvindo este plano grandioso.

- E que não te prendam questões de dinheiro, Carlos! Nós fizemos nestes últimos anos de Santa Olávia algumas economias...

- Boas e grandes palavras, avô! Repita-as ao Vilaça.

As semanas foram passando nestes planos de instalação.





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