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Capítulo 4: Capítulo 4

Página 60

Quando Frau Grubach lhe trouxe o pequeno-almoço — desde que fora a causadora daquela irritação de K., passara ela própria a executar para ele os mais insignificantes serviços —, K não conseguiu controlar-se e quebrou pela primeira vez o silêncio que se fizera entre os dois, perguntando, enquanto deitava o café na chávena: «Que aconteceu para haver hoje um tal tumulto no vestíbulo de entrada? As limpezas têm de ser feitas ao domingo? Não podem ficar para outra altura?» Se bem que K. não levantasse os olhos para Frau Grubach, pôde notar que ela soltou um suspiro de alívio. Estas perguntas, embora duras, interpretou-as ela como se fossem ou um perdão ou uma tentativa para perdoar. «Não se esta a fazer nenhuma limpeza, Herr K.», respondeu ela. «Fraulein Montag vai partilhar o quarto com Fraulein Burstner e está a fazer a mudança das suas coisas para lá.» Não disse mais nada, aguardando um pouco para ver como K. reagiria e se ele consentiria que ela prosseguisse. Contudo, K. quis torturá-la e, mexendo pensativamente o café, manteve-se calado. Então olhou para ela e disse-lhe: Já deixou de suspeitar de Fraulein Bürstner?» «Herr K.», exclamou Frau Grubach, que esteve sempre à espera desta pergunta e que, de mãos estendidas para ele, respondeu: «O senhor levou demasiadamente a sério um comentário meu sem importância alguma: nunca me passou pela cabeça ofendê-lo a si ou a outra pessoa qualquer. Com certeza que já me conhece suficientemente bem, Herr K., para não ter qualquer dúvida. Não faz ideia de como tenho sofrido nestes últimos dias! Eu, falar mal dos meus hóspedes! E o senhor acreditou em tal! E ainda por cima me disse que eu devia despedi-lo!» As últimas exclamações foram já sufocadas pelos soluços e ela levantou o avental para limpar os olhos, chorando alto.

«Por favor, não chore, Frau Grubach», pediu-lhe K., olhando através da janela e pensando somente em Fraulein Bürstner e no facto de ela ter partilhado o seu quarto com uma rapariga estranha. «Não chore, por favor», pediu-lhe ele novamente quando se voltou e deu com Frau Grubach ainda a chorar. «O que eu disse não foi assim tão grave. Parece que houve um mal-entendido entre nós. Estas coisas acontecem mesmo entre velhos amigos.» Frau Grubach tirou o avental dos olhos para se certificar de que K. não estava realmente zangado. «Pronto, foi exactamente o que aconteceu», disse K., e então aventurou-se a acrescentar, já que, pela aparência de Frau Grubach, o sobrinho. o capitão, não devia ter divulgado nada do que ouvira: Desacredita realmente que eu me zangaria consigo por causa de uma rapariga estranha?» «É isso mesmo, Herr K.», replicou Frau Grubach, que teve a infelicidade de, logo que se sentiu moralmente aliviada, dizer uma coisa que mostrou falta de tacto: «Fartei-me de perguntar a mim própria: por que é que Herr K. se há-de incomodar tanto com Fraulein Bürstner? Por que é que ele havia de me questionar por causa dela, se sabe perfeitamente que qualquer palavra áspera da parte dele me tira logo o sono? E eu, afinal, não disse da rapariga nada que não tivesse visto com os meus próprios olhos.» K. não deu qualquer resposta a isto; devia era tê-la posto fora do quarto logo que ela começou a falar, mas não quis fazê-lo.

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Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 60

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179