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Capítulo 9: Capítulo 9

Página 84

Mr. Duffy ergueu os olhos do jornal e fitou a noite através da janela aberta. O rio dormia sossegado, ao lado da destilaria e, de vez em quando, uma luz aparecia em qualquer casa da estrada de Lucan. Mas que fim!..

A inteira narrativa da sua morte revoltara-o, e também o revoltara pensar que lhe havia confiado as coisas mais sagradas do seu coração.

As frases usadas, as vazias expressões de simpatia, as palavras cautelosas de um repórter procurando detalhes de uma morte vulgar, atacaram-lhe o estômago. Não só ela se tinha degradado, como ainda o havia arrastado na lama da vergonha... Entreviu a esquálida extensão do seu vício miserável. «A companheira da sua alma!» Pensou nas criaturas que tinha visto, transportando garrafas que o homem do bar enchia...

Santo Deus, mas que fim!... Evidentemente ela não nascera para viver; era fraca e cheia de vícios, um dos destroços em que a civilização fora construída. Mas que houvesse caído tão baixo!. .. Seria possível que se tivesse enganado de tal maneira? Lembrou-se da forma como ela se portara naquela noite, e deu-lhe uma interpretação pior do que nunca. Não via nenhuma dificuldade em aprovar o caminho que então tomara.

Enquanto a luz desaparecia, e a sua imaginação trabalhava, julgou que a mão dela lhe tocava. O choque que primeiro sentira no estômago, atacava-lhe agora os nervos. Pôs o sobretudo e saiu com rapidez. O ar frio veio de encontro a ele, na porta, e subiu-lhe pelas mangas do casaco. Quando chegou ao bar da ponte de Chapelizod, entrou e pediu um punch quente.

O proprietário serviu-o com amabilidade, mas não teve coragem de falar. Estavam ali cinco ou seis trabalhadores, discutindo o valor de uma propriedade particular, no estado de County Kildare. Nos intervalos, bebiam, fumavam e cuspiam para o chão, pisando em seguida os escarros, com as pesadas botas. Mr. Duffy sentou-se num banco e olhou para eles, mas não os via nem ouvia. Depois de um bocado, foram-se embora, e Mr. Duffy pediu outro punch. Demorou-se ali um grande bocado. O proprietário, encostado ao balcão, lia o Herald. De vez em quando, ouvia-se um carro passar na estrada solitária. Mr. Duffy recordou a sua vida com a vítima e evocou, alternadamente, as duas imagens nas quais a idealizara. Ela estava morta, deixara de existir, tornara-se uma recordação. Começou a sentir-se doente. Perguntou a si mesmo se poderia ter agido doutro modo. Não era homem para aguentar comédias; também não podia ter vivido com ela abertamente.

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Capa do livro Gente de Dublin
Páginas: 117
Página atual: 84

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 9
Capítulo 3 30
Capítulo 4 36
Capítulo 5 52
Capítulo 6 58
Capítulo 7 63
Capítulo 8 69
Capítulo 9 78
Capítulo 10 86