O Retrato de Dorian Gray - Cap. 6: Capítulo 6 Pág. 108 / 335

- Eu sabia que ele não era livre. Amámo-nos muito. Se não tivesse morrido, ter-nos-ia deixado alguma coisa. Não fales contra ele, meu filho. Era teu pai, e era um homem de bem. Tinha excelentes relações.

- Não é em mim que eu penso - exclamou Jim, soltando uma praga -, mas não deixe a Sibyl... É um sujeito da alta, não é verdade, que lhe faz namoro? Também esse deve ter excelentes relações!...

Esmagou por um momento a mulher uma hedionda sensação de humilhação. Baixou a cabeça. Enxugou os olhos com as mãos trémulas.

- A Sibyl tem mãe - murmurou - e eu não tinha... O moço estava compungido. Encaminhou-se para ela e, baixando-se, beijou-a.

- Sinto muito tê-la magoado com a pergunta que lhe fiz - disse -, mas não podia deixar de lha fazer. Agora tenho de partir. Adeus. Não se esqueça de que tem agora só de velar por uma filha, e creia que, se esse homem fizer mal a minha irmã, eu hei-de descobrir quem ele é, hei-de apanhá-lo e matá-lo como um cão. Juro-o!

O exagerado desvario da ameaça, o gesto apaixonado que a acompanhou, os termos melodramáticos em que foi expressa deram à velha uma mais intensa emoção de vida. Estava familiarizada com o ambiente. Respirou mais afoitamente e, pela primeira vez após muitos meses, admirou o filho. Gostaria de ter continuado a cena na mesma escala emotiva, mas ele cortou-a cerce.





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