O Retrato de Dorian Gray - Cap. 6: Capítulo 6 Pág. 107 / 335

Sentia que tinha direito a saber... Deviam ter-lho dito antes, se era o que suspeitava. Opressa de medo, sua mãe espiava-o. As palavras caíam-lhe maquinalmente dos lábios. Enrodilhavam nos dedos um lenço de renda em farrapos. Ao baterem seis horas, o filho levantou-se e dirigiu-se para a porta. Voltou-se e olhou para a mãe. Os seus olhos encontraram-se. Nos dela um desesperado fulgor suplicava perdão. Isso enraiveceu-o.

- Mãe, tenho uma coisa a perguntar-lhe.

Ela passeou vagamente os olhos pelo quarto e não respondeu.

- Diga-me a verdade - prosseguiu o rapaz. - Tenho direito a sabê-lo. Era casada com o meu pai?

A velha soltou um profundo suspiro. Era um alívio.

Chegara finalmente o momento terrível, o momento que, durante semanas e meses, receara noite e dia, e, contudo, nenhum terror sentia. Na verdade, para ela, era de certo modo uma decepção. A questão, assim posta, sem rodeios, em termos triviais, reclamava resposta igualmente directa. A situação não havia sido gradualmente encaminhada num crescendo de interesse. Era crua. Lembrava-lhe um mau ensaio.

- Não - respondeu, espantada da brutal simplicidade da vida.

- Meu pai então era um patife? - bradou o rapaz, enclavinhando os punhos.

Ela meneou a cabeça.





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