- Mãe, tenho uma coisa a perguntar-lhe.
Ela passeou vagamente os olhos pelo quarto e não respondeu.
- Diga-me a verdade - prosseguiu o rapaz. - Tenho direito a sabê-lo. Era casada com o meu pai?
A velha soltou um profundo suspiro. Era um alívio.
Chegara finalmente o momento terrível, o momento que, durante semanas e meses, receara noite e dia, e, contudo, nenhum terror sentia. Na verdade, para ela, era de certo modo uma decepção. A questão, assim posta, sem rodeios, em termos triviais, reclamava resposta igualmente directa. A situação não havia sido gradualmente encaminhada num crescendo de interesse. Era crua. Lembrava-lhe um mau ensaio.
- Não - respondeu, espantada da brutal simplicidade da vida.
- Meu pai então era um patife? - bradou o rapaz, enclavinhando os punhos.
Ela meneou a cabeça.