O Retrato de Dorian Gray - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 144 / 335

- Sente frio? - perguntou o criado, servindo-lhe uma omeleta. - Fecho a janela?

Dorian abanou a cabeça.

- Não tenho frio - murmurou.

Era verdade? Havia o retrato realmente mudado? Ou teria sido apenas a sua imaginação que o fizera ver expressão de crueldade onde havia expressão de alegria? Com certeza uma tela pintada não podia mudar! Era absurdo. Seria uma história para um dia contar ao Basil. Fá-lo-ia sorrir.

E, no entanto, com que precisão se lembrava de tudo!

Primeiro, na penumbra do crepúsculo e, depois, no esplendor da manhã, vira o vinco de crueldade em roda dos lábios arrepanhados. Quase o aterrava a ideia de que o criado ia deixar o quarto. Sabia que, mal ficasse só, correria a examinar o retrato. Arreceava-se da certeza. Quando o criado trouxe o café e os cigarros e voltou as costas para sair, sentiu um fero desejo de lhe dizer que ficasse. Quando a porta se ia a fechar, chamou-o. O homem estacou, à espera de ordens. Dorian fitou-o por um momento. Depois disse, com um suspiro:

- Não estou em casa para ninguém, Victor. - Este curvou-se e saiu.

Dorian ergueu-se, então, da mesa, acendeu um cigarro e estirou-se sobre um divã de luxuosas almofadas, que se achava colocado em frente do velho biombo de coiro doirado, artisticamente trabalhado, em estilo Luís XIV.





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