O Retrato de Dorian Gray - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 183 / 335

Destruiriam a sua beleza e devorariam a sua graça. Poluí-ia-iam e torná-la-iam asquerosa. E, todavia, continuaria vivendo. Conservar-se-ia sempre viva.

Estremeceu, e por um momento lastimou não haver dito a Basil a verdadeira razão por que desejaria esconder o retrato. Basil havê-lo-ia ajudado a resistir à influência de Lord Henry e às influências ainda mais venenosas que dimanavam do seu próprio temperamento. O amor que lhe consagrava - pois era realmente amor - nada tinha que não fosse nobre e intelectual. Não era aquela mera admiração física da beleza que nasce dos sentidos e que morre quando os sentidos se cansam. Era um amor como o que haviam conhecido Miguel Ângelo, Montaigne, Winckelmann e o próprio Shakespeare. Sim, Basil teria podido salvá-lo. Mas agora era demasiado tarde. Podiam consegui-lo o pesar, a repulsa ou o esquecimento. O futuro, porém, era inevitável. Havia nele paixões que encontrariam o seu terrível desfecho, sonhos que tornariam real a sombra do seu malefício.

Pegou na grande colcha de púrpura e oiro que cobria o divã e, segurando-a nas mãos, dirigiu-se para trás do biombo. Estava a cara pintada na tela mais hedionda do que antes? Pareceu-lhe não haver mudado; e, no entanto, intensificou-se-lhe o asco que lhe inspirava.





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